Libra não resiste à incerteza política no Reino Unido

A incapacidade do Parlamento britânico chegar a acordo quanto a qualquer solução concreta para o processo de saída da Grã-Bretanha da União Europeia e a última rejeição do acordo de saída de Theresa May já fizeram duas vítimas: a paciência do presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, e a libra.

Juncker teceu ontem várias críticas ao facto de os parlamentares tem rejeitado dezenas de propostas que deviam acrescentar qualquer coisa ao acordo do Brexit e, ao mesmo tempo, mostrarem-se profundamente incapazes de votarem favoravelmente o que quer que seja que pudesse indicar o caminho que o país pretende seguir.

Esta incerteza – a que se acrescenta a terceira recusa da Câmara dos Comuns em aceitarem o acordo proposto pelo governo de Theresa May – transmite-se inevitavelmente ao ambiente económico e à confiança na economia (tanto da parte das empresas como da dos consumidores), o que só pode ser mau para a saúde da libra, que caiu quase 2% e teve o prior desempenho das divisas do G10.

De facto, perante a aproximação de um Brexit sem acordo no dia 12 de abril, apesar de o principal cenário continuar a ser o adiamento, que dará tempo ao Reino Unido para reunir uma maioria política viável em torno de qualquer das opções, eventualmente através de eleições legislativas, no curto prazo, “teremos uma nova ronda de votações de diferentes versões do Brexit no Parlamento, com o objetivo de que, pelo menos uma, não seja redondamente rejeitada. Espera-se volatilidade da Libra até que seja pedido e aprovado o adiamento do prazo”, refere a fintech Ebury.

À volta da libra as coisas estão a correr um pouco melhor. Assim, os dados económicos relativos à Zona Euro “eram mais positivos na semana passada, depois da desilusão da atividade industrial da semana anterior. As vendas a retalho da Alemanha tiveram um desempenho muito forte e os dados dos meses anteriores foram revistos em alta”, realça a financeira.

No entanto, os comentários brandos dos funcionários do BCE mantiveram o euro na defensiva e perto dos níveis mais baixos dos últimos intervalos de referência em relação ao dólar americano. “Os dados provisórios da inflação, em março, são a principal notícia da semana. Com o mercado a esperar uma descida de 0,1% na inflação subjacente, pensamos que a repetição do valor de 1% do mês anterior será suficiente para alimentar uma subida moderada do Euro, atualmente no nível mais baixo do intervalo de referência”.

Ao contrário da libra, e apesar das eleições municiais, a lira turca recuperou parte das perdas sofridas nos últimos tempos, “graças às medidas tomadas por Erdogan para restringir o mercado offshore da moeda turca, numa tentativa bem-sucedida de estabilização monetária”, refere a Ubury. “O que vai acontecer agora ninguém sabe, embora a quebra dramática das reservas de moeda estrangeira do banco central não seja um bom prenúncio”.

Fora da Europa, “os dados publicados na semana passada deixaram um tom positivo, uma vez que os índices PMI da atividade empresarial da China ultrapassaram as expectativas neste fim-de-semana”.

Os dados de segunda linha, publicados nos Estados Unidos na semana passada foram, em média, mais fracos do que o esperado, embora não suficientemente para alterar de forma significativa o quadro macroeconómico. “Prevê-se que o relatório sobre o emprego, que sairá na sexta-feira, recupere parte da antiga glória de ser a principal publicação de dados do mês. A escalada regular dos salários, em particular, juntamente com a sólida criação de emprego, poderão pôr fim à tumultuosa corrida mundial à dívida pública”.

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