As mudanças climáticas e a economia

As mudanças climáticas são uma dura realidade e nos últimos tempos tem ganho mais atenção por parte dos governos e das empresas.

As altas temperaturas interferem no desenvolvimento económico a curto e longo prazo e podem ter consequências em todo o mundo.

O calor extremo do verão no Hemisfério Norte, que chegou a registrar recordes de temperatura e até mortes em consequência do clima, foi um sinal de alerta para o mundo. Além de afetar o meio ambiente, o clima mais quente é prejudicial para a economia.

As mudanças climáticas não são só uma ameaça para o planeta e para as pessoas, são uma das maiores ameaças para a estabilidade económica mundial.

Com as mudanças climáticas causadas pela intervenção humana, as ondas de calor tornaram-se cada vez mais frequentes nas últimas décadas e um novo estudo publicado na revista Science Advances que analisou dados desde 1990 apontou um prejuízo de cerca de US$ 16 trilhões à economia global devido ao calor extremo, com uma variedade de efeitos também sobre as pessoas.

As ondas de calor reduzem a capacidade de trabalho e a produtividade. Os furacões, ciclones e tufões, depois de arrasar cidades, deixam milhões de pessoas na pobreza. As secas reduzem as colheitas, dificultando cada vez mais a já difícil tarefa de alimentar uma população mundial que chegará aos 10 bilhões de pessoas em 2050. O Banco Mundial adverte que se não adotarmos medidas de caráter urgente, os impactos causados pelas mudanças climáticas poderão levar mais 100 milhões de pessoas à pobreza até 2030.

Em 2018 o Nobel de Economia foi entregue aos economistas norte-americanos William D. Nordhaus e Paul Romer por terem integrado a mudança climática na análise macroeconómica a longo prazo. Nordhaus foi o primeiro economista a desenvolver um modelo quantitativo que reproduz a interação entre o desenvolvimento económico e a evolução do clima a escala global. Para Nordhaus, a solução para travar as mudanças climáticas consiste em pôr um preço dissuasório ao carbono, uma vez que o preço atual não incentiva a mudança para energias alternativas.

Num relatório do final de 2018, a Comissão Mundial sobre a Economia e o Clima, recomenda a adoção de medidas climáticas que poderiam gerar um lucro económico de 26 bilhões de dólares até 2030, bem como a criação de 65 milhões de novos empregos com baixas emissões de carbono.

No sentido de se construir um modelo de crescimento mais resiliente e benéfico para as populações, segundo este relatório, deve-se acelerar a transformação estrutural em cinco setores-chave da economia:

Sistemas de energia limpa

A descarbonização dos sistemas de energia combinada com tecnologias de eletrificação descentralizadas e disponibilizadas digitalmente pode proporcionar acesso a serviços de energia modernos para 1 bilhão de pessoas que atualmente não dispõem dela.

Desenvolvimentos urbanos mais inteligentes

Cidades mais compactas, conectadas e coordenadas economizariam 17 bilhões de dólares até 2050 e estimulariam o crescimento económico melhorando o acesso ao trabalho e à habitação.

Uso sustentável da terra

A mudança para formas de agricultura mais sustentáveis combinadas com uma importante proteção florestal poderia gerar um lucro económico que se situaria a volta de 2 bilhões de dólares por ano.

Gestão inteligente da água

As regiões com escassez de água poderiam evitar uma queda no seu PIB, que poderia chegar a 6% até 2050, usando a água de forma mais eficiente através de melhorias tecnológicas e do investimento em infraestruturas públicas.

Economia circular industrial

Hoje, 95% do valor do material de embalagens de plástico é inutilizado após a primeira utilização. Políticas que fomentem um uso mais circular e eficiente dos materiais poderiam melhorar a atividade económica mundial e reduzir os resíduos e a poluição.

O uso de energia resultante de fontes renováveis como a solar e a eólica, nomeadamente na frota automóvel, ajuda a amenizar o impacto, mas somente isso não é suficiente para travar essas alterações no clima do planeta. A economia circular pode desempenhar um papel importante para o meio ambiente. A intenção é mudar a nossa lógica de consumo, que hoje funciona de maneira linear (extração de matéria-prima – produção – consumo – descarte), para uma circular, em que depois do consumo, aquele material tem uma nova função, que pode ser a reciclagem ou reuso, por exemplo.

Os principais objetivos da Economia Circular são, eliminar resíduos e poluição, utilizar produtos e materiais renováveis e regenerar os sistemas naturais explorados.

Segundo um artigo publicado pela fundação Ellen Macarthur, Como a Economia Circular ajuda a enfrentar as mudanças climáticas, quando a lógica da Economia Circular é aplicada aos materiais industriais como o cimento, aço, plástico e alumínio, pode ser possível reduzir até 40% das emissões de poluentes até 2050. E quando aplicamos as mesmas estratégias ao setor alimentar, a redução pode chegar a 49%.

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