O cheque com o reembolso do IRS chegou? Saiba o que fazer com ele

Os “cheques” do reembolso do IRS estão a chegar a muitos contribuintes. Menos de duas semanas após o arranque do prazo de entrega do IRS, o fisco já deu ordem de processamento a cerca de 370 mil reembolsos. Muitos contribuintes preparam-se assim para ter, em breve, uma dupla razão para sorrir. Para além de verem os euros da conta bancária aumentarem, o cheque do reembolso “assinado” por Mário Centeno deverá ser mais “chorudo” este ano. Mas qual o melhor destino a dar a esse dinheiro?

Independentemente da quantia a entrar na conta, não significa que não mereça uma boa aplicação. Partindo do cenário base de um reembolso de mil euros, o ECO foi em busca de algumas das melhores opções, sejam elas o pagamento de dívida ou a subscrição de produtos de poupança.

Pague-se primeiro. Só depois invista

Antes de avançar para a escolha de um produto financeiro, a melhor decisão de investimento a tomar poder ser mesmo o pagamento de eventuais dívidas. “Antes de fazer qualquer poupança é prioritário eliminar as dívidas”, aconselha António Ribeiro, analista financeiro da Proteste Investe. Isto porque, lembra este especialista, “geralmente a taxa de juro cobrada [nos empréstimos] é muito superior à das aplicações de poupança, mesmo aquelas com risco”.

prioridade deve ser dada às dívidas em que as taxas de juro exigidas são mais elevadas. Caso sobretudo dos cartões de crédito, seguindo-se o crédito pessoal. No que respeita aos cartões de crédito, as taxas de juro que os bancos cobram pela ultrapassagem do prazo de reembolso da quantia emprestada, facilmente podem chegar a 16%. Já no caso do crédito pessoal sem finalidade específica, os custos com juros podem rondar os 13%. Ou seja, taxas que dificilmente são equiparáveis pela via dos investimentos mais tradicionais.

Não existindo encargos com créditos, devem então ser analisadas as alternativas de aplicação. Se o objetivo for apostar em produtos de poupança com capital garantido, a aposta em Certificados do Tesouro Poupança Crescimento (CTPC) é, segundo António Ribeiro, a melhor alternativa para aplicar o reembolso do IRS. “É um produto que garante um mínimo de 1% [em média, em termos líquidos], ao fim de sete anos de aplicação, porque a partir do segundo ano o rendimento varia em função da taxa de crescimento do PIB”, explica.

Remuneração que, quando comparada com a quase generalidade dos depósitos a prazo a um ano disponíveis no mercado, é mais atrativa. Para aplicar mil euros por um prazo de um ano, entre 16 bancos analisados pelo ECO, há apenas um banco a remunerar a um nível similar, em termos líquidos. Especificamente, o BNI Europa que paga uma taxa de juro bruta de 1,35%, a 12 meses, na subscrição do depósito “BNI Europa”. Em termos líquidos, a remuneração fica em 0,972%.

Os depósitos a 12 meses mais rentáveis em cada banco

O cheque com o reembolso do IRS chegou? Saiba o que fazer com ele

© Swipe News, SA O cheque com o reembolso do IRS chegou? Saiba o que fazer com ele

A restante oferta disponível no mercado fica bastante aquém desse valor. “Neste momento os depósitos rendem muito pouco. A média de rendimento de um depósito é 0,1%, ou seja, é praticamente zero”, esclarece o economista da Deco. Basta olhar para os melhores produtos de cada banco para atestar isso mesmo, com a maioria da oferta a remunerar entre 0% e e 0,15%, em termos brutos.

Mas a preferência pelos CTPC face aos depósitos nem sempre é a melhor opção. Tal acontece no caso de quem habitualmente tem a “conta a zeros” ou está lá próximo. “Se estivermos a falar de uma pessoa que não tenha mais poupança, em primeiro lugar, deve garantir o chamado fundo de emergência, em produtos de capital garantido e com alguma liquidez“, salienta António Ribeiro, que adianta que “neste caso, o mais indicado seria um depósito a prazo“.

A razão para tal tem a ver com o facto de os CTPC só serem mobilizáveis ao fim do primeiro ano de aplicação. Tendo em conta essa circunstância, é preferível colocar o dinheiro em depósitos a prazo facilmente mobilizáveis de modo a que o dinheiro possa ficar disponível para fazer face a um eventual contratempo.

De olhos na reforma

Outra opção para aplicar o reembolso do IRS é subscrever ou reforçar um Plano Poupança Reforma (PPR), algo que António Ribeiro considera que os portugueses devem focar a sua atenção.

“Os estudos recentes da OCDE dizem que a população portuguesa vai ser das que, ao nível dos países da OCDE, vai envelhecer mais. Portanto, vai haver uma pressão enorme para a diminuição e a alteração do sistema das pensões públicas”, explica o analista financeiro. “Daí que é cada vez mais importante que as pessoas pensem em criar, pela sua iniciativa, um complemento privado para a reforma, através de produtos como os PPR”, complementa.

Aí, os aforradores/investidores têm ao seu dispor dois tipos de produtos alternativos: seguros e fundos PPR. Os primeiros podem ser subscritos através das seguradoras e os segundos via as gestoras de ativos. Para quem pretenda assegurar a garantia de capital ou esteja próximo da reforma, o especialista da Proteste Investe recomenda privilegiar PPR sob a forma de seguro já que oferecem garantia de capital e de rendimento, na maioria dos casos.

“Um dos produtos que nós recomendamos, e que tem capital garantido, é um seguro da Lusitânia Vida que tem um rendimento mínimo de 1,5% para este ano“, diz a esse propósito, referindo-se ao caso específico do Lusitânia Poupança Reforma PPR. O rendimento obtido em 2018 ainda não é conhecido, mas este seguro PPR proporcionou um rendimento de 3,8%, em 2017, e de 3,9% ao ano nos últimos três anos até final de 2017.

Mas há outros seguros PPR disponíveis no mercado. É possível consultar, a lista que está disponível para comercialização no site do regulador dos seguros: a ASF. Os últimos dados disponíveis, relativos a 2017, mostram que naquele ano, os PPR sob a forma de seguros renderam, em média, 1,59%. Não existem ainda dados referentes a 2018.

Mas é importante ter em conta as comissões que podem “comer” grande parte da rentabilidade dos PPR, além de que rentabilidades passadas também não são garantia de retornos futuros, tal como diz a “sabedoria dos mercados”.

Tal é verdade também nos PPR sob a forma de fundos de investimento, produto que António Ribeiro aconselha ser uma boa alternativa para quem pretenda aplicar o reembolso do IRS. “Se se estiver disposto a aceitar um pouco mais risco, ou ainda estiver longe da reforma, um PPR sob a forma de fundo de investimento também é uma boa opção. Apesar de não ter o capital garantido, o potencial de rendimento é superior”, justifica o economista.

Existem fundos PPR com diferentes níveis de exposição ao risco. Ou seja, com mais ou menos investimentos em ações. Poderão assim existir anos de perdas ou de ganhos consoante a evolução dos mercados. De acordo com os dados da APFIPP, associação que agrega as gestoras de ativos nacionais, nos 12 meses terminados em fevereiro, os fundos PPR apresentaram um retorno médio negativo de 1,82%. A três anos e a cinco anos, a taxa de rentabilidade média é de 1,16% e 1%, respetivamente.

António Ribeiro sugere, dentro deste leque de produtos, o Alves Ribeiro PPR, um fundo PPR sem garantia de capital, mas que rende 6,7% ao ano, nos últimos cinco anos, à data de 31 de dezembro de 2018. “O ano de 2018 não foi especialmente bom para os mercados e também este fundo foi penalizado (-3,9%), mas em 2015, 2016 e 2017 obteve sempre resultados que rondaram os 10% ao ano”, dizia a Proteste Investe numa análise recente a esse produto.

Para ajudar os investidores a escolherem um PPR, a Deco lançou um simulador. Esta ferramenta permite comparar o rendimento dos últimos três anos dos quase 700 PPR existentes no mercado, sob a forma de seguro ou fundo. Este simulador pode, aliás, ajudar a prevenir eventuais perdas no investimento em PPR, já que segundo a Deco Proteste, os aforradores podem ter “perdido”, num investimento de 10.000 euros, 580 euros por ano, em média, “por não terem elegido a melhor opção”.

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